https://www.flickr.com/photos/organize/?start_tab=sets

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Oito séculos de Língua Escrita

Com este título na capa e contracapa e com o símbolo do Fórum Galaico transmontano – círculo de Estudos e divulgação- foi distribuído pelos seus associados, convivas e técnicos dos serviços culturais da região, o volume nº 5 da Revista que dá nome, sentido e cobertura a este grupo de intelectuais da fronteira norte, nas áreas de influência de Chaves e de Verin. Mais ampla do que a antiga fronteira dos Povos promíscuos, da  velha Galiza que tem hoje a juventude do primitivo Reino Galego, esta ampla região luso-transmontana nunca se desentendeu, apesar dos artificialismos fronteiriços que nenhum convénio desfaz, quando a Terra é a mesma e a alma humana se funde e confunde por cada geração que passa. Há oito anos, como há oito séculos, a geração que preside aos destinos desta aldeia global, criou o Fórum Luso-Galaico. Tem hoje 120 pessoas de lá e de cá que se identificam pelos usos e costumes, pela gastronomia, pela região, pela ancestralidade e também pela esperança de mais oito séculos, tão unidos como hoje. Essa gente de ambos os sexos, velhos e novos, escolarizados e candidatos a todas as artes e ofícios que a Região extrai da terra que pisa e das fragas em que descansa, cultiva o gosto de viver em comunhão, troca experiências, saberes e culturas, numa espécie de lusofonia agalegada, que robustece os dois idiomas novilatinos.
  Esta sã e multi-secular convivência que remonta ao Condado Portucalense e se fundiu em 1096 com o casamento do Conde de D. Henrique com D. Teresa Afonso, em Entre os Rios Minho e Douro, reforça-se ao longo da Fronteira entre de  La Guardia e Zamora, através de associações que visam a junção de culturas, de saberes, de gostos e de vontades.
 O Fórum que é fruto da forte vontade de estreitar essas relações, deve-se a Fernando Rua Castro que há seis anos criou uma publicação anual, que condensa ideias, projetos e realizações comuns entre os de cá e os de lá e vice-versa. Por cada encontro que realiza, apresenta uma espécie de ata que faz a recolha e a leitura dos acontecimentos de ambos os lados. Assim foi o VI Encontro que já se fizera em Montalegre, em Valpaços, em Boticas, em Verín e em Chaves, concelhos que pertencem à região do Alto Tâmega.
  A confraternização sócio-cultural abriu na Sexta-Feira, (29), ao início da Tarde no Ecomuseu Espaço Padre Fontes com a distribuição do V número da Revista Fórum Galaico- Transmontano. No dia 30 invocaram-se memórias vivas que se apagaram com a morte, mas permanecem entre nós como referenciais a seguir. Dessas memórias fala a revista. E aqui ficam citadas pela ordem em que alguns vivos, falam daqueles que conheceram, mas já partiram: Francisco Añón, Álvaro de Carvalhal, Ramón Otero Pedrayo, Miguel Torga, Fernão de Magalhães Gonçalves, Bento da Cruz e Sampaio Marinho.
A publicação  mudou de grafismo, de formato e de papel, deu guarida a colaboradores de vários tipos de formação e de notabilidade literária, desde o catedrático Telmo Verdelho, ao tribuno galego Ramón Otero Pedrayo, desde o laureado Pires Cabral, ao monógrafo António Mosca, desde o biógrafo José António Silva à poetisa Manuela Morais. A António Chaves e Maria José Afonso coube a tarefa maior e mais aprofundada sobre Bento da Cruz.
  Telmo Verdelho teve o cuidado científico, como linguista profissional da Universidade de Aveiro, de publicitar, traduzir e expor «os mais antigos documentos em galego-português». Começa por dizer que «são já passados oito séculos desde que D. Afonso II entendeu fazer um testamento com a preocupação confessada de assegurar a sucessão pacífica e acautelar o sufrágio da sua alma». Longo no ponto 1 afirma que  «o texto então redigido nos chegou, relativamente isolado, como o primeiro documento régio escrito em Língua Portuguesa e, durante muitos anos foi considerado o primeiro texto conhecido em que se iniciava a escrita em vernáculo português». Adianta, entretanto que se tornaram ultimamente conhecidos documentos privados que antecipam em cerca de 40 anos, a data das primeiras tentativas até agora conservadas para dar expressão escrita ao vernáculo galego-português. Pelo que podemos dizer que a «Língua Portuguesa já tem cerca de oito séculos e meio de memória escrita». E que o ensaio da escrita em «latim vulgar» (dita por oposição à língua latina), pode ter começado algum tempo antes, durante o reinado de Afonso Henriques.
Da página 7 à 23 delicia Telmo Verdelho os leitores deste exemplar número um, da Revista do Fórum Galaico- Trasmontano. Mesmo que o Padre Lourenço Fontes venha a seguir com cinco páginas, onde demonstra que «Palavras as leva o vento» a Direção do Fórum  promoveu um excelente fim de semana cultural nas Terras de Barroso.

                                                                                                 Barroso da Fonte