Um denominador comum, a cultura
galaico - transmontana. Com este pretexto, na manhã do passado sábado, 25 de
Maio, reuniram-se na Biblioteca Municipal de Chaves personalidades da cultura
do Alto Tâmega, Barroso e Galiza, para o III Encontro com Escritores e
Jornalistas, promovido pelo Fórum Galaico Transmontano (FGT).
O evento foi marcado por uma
sessão cultural marcada pelas intervenções dos convidados Prof. Doutor Fernando
Augusto Machado, professor da Universidade do Minho, Professor Albert Blanco
Casal, do Instituto Ens. Sec. de Verín e Dr. Paulo Chaves, Diretor do Jornal “A
Voz de Chaves”.
O Presidente da Direção do Fórum
Galaico Transmontano, como anfitrião fez as honras da iniciativa, deu as boas
vindas a todos quantos estiveram presentes, agradeceu a disponibilidade da
autarquia representada pelo Arq. António Cabeleira, e enalteceu o papel do FGT,
que paulatinamente, passo a passo, tem afirmado um percurso sólido, comprovado
por um conjunto de realizações, que elevam a associação a referência cultural
desta região.
O FGT marca o seu caminho,
trabalha em prol da cultura, em favor da região galaico – transmontana, procura
somente, despertar mentes, para uma das maiores riquezas de que dispõe – a sua
beleza, a sua riqueza, está no seu ser, a sua cultura, o seu passado, o seu
presente e o seu futuro.
Certamente vivemos uma época
difícil da nossa história, pela grave e severa crise económico – financeira que
o país atravessa, mas como referiu o Arq. António Cabeleira, não cessará de
apoiar a cultura, em última instância é a nossa identidade, essa sobreviverá a
todas as crises… há gentes que o asseguram… as gentes galaico – transmontanas.
Neste mar de dificuldades, com
recursos limitados, o FGT, deu a conhecer, neste evento, a revista Fórum nº2.
Contou com apoios diversos, fundamentalmente, as autarquias da região. Mais uma
vez se destaca, os tempos são de crise, os recursos são parcos, mas associações
como o FGT disponibilizam os seus saberes, conhecimentos, competências, o seu
tempo, de uma forma voluntária, gratuita… e esse capital é reconhecido por
várias autarquias da nossa terra, que aproveitam, como que esta dádiva, como
uma mais valia, como uma forma de preservar a memória, uma herança que desta
forma é legada a gerações futuras, que terá neste tipo de manifestações uma
forma preservação do seu ser.
O FGT que realiza as suas
atividades, quase a custo zero para os seus associados, marca que acompanha a
associação desde que Fernando Castro assumiu a sua presidência, prossegue,
assim, o seu caminho.
O III Encontro com Escritores e
Jornalistas trouxe a debate três convidados, três temáticas distintas.
O Professor Doutor Fernando
Augusto Machado reptado académico da Universidade do Minho, trouxe a discussão
algumas reflexões sobre o objeto atual da sua investigação, numa intervenção
intitulada “A igreja e a circunstância secular em tempos outros: o caso do bispado
de Miranda e Bragança”.
Assim, e através do estudo
analítico de ordens, decretos, encíclicas e outros documentos do bispado, ao
longo de vários séculos, podemos entender como a realidade atual é condicionada
por ordens e decretos aplicados há séculos atrás; aspetos da moral, da
indumentária, da vida quotidiana resultam de determinações emanadas de uma fase
de afirmação da igreja no passado. Um passado em que foi necessário formar,
disciplinar, organizar e fazer obedecer as populações. Com espanto ou o
resultado lógico de um processo, mais ou menos aceite, Fernando Augusto
Machado, deu uma ótima lição… e ele tenta provar a sua tese: tudo o que se
passa, tem implicações globais, mesmo em recantos profundos e manifestamente
inacessíveis como o Trás – os – Montes profundo, o Barroso, a Galiza… foi assim
no passado (como se verifica pelos documentos estudados), é assim, no presente.
Depois, o professor Albert Blanco
Casal, apresentou a sua intervenção “A variante André: História dunha
frustración”. Também correspondente a investigação que não está concluída e que
alude ao tema das acessibilidades. Trás – os – Montes e a Galiza, partilham o
mesmo desígnio, muitas vezes esquecidas, muitas vezes distantes, muitas vezes
esperam e desesperam por progresso, às vezes por um pouco de atenção… muitas
vezes por decisões que o vento leva, que o vento trás, por decisões que não são
decisões, por decisões, más decisões, de quando em vez, boas decisões, daquelas
que iluminam caminhos, corações, enchem o povo de orgulho e de esperança.
O caso da variante “André” foi um
desses exemplos, trata-se do processo de expansão do transporte ferroviário no
país vizinho, mais propriamente da expansão da rede para a vizinha Galiza, e
das várias opções de traçados que estiveram em discussão. A variante
“André” que foi uma proposta rejeitada
ao tempo (inícios do século XX), considerada por Albert Blanco Casal,
sustentada nos seus conhecimentos académicos (Engenheiro de formação)e nas
investigações que já realizou, provavelmente a melhor opção global para o
trajeto ferroviário. Numa altura em que se discutiam as melhores opções: a Norte (ligação ao porto da Corunha) ou Sul
(ligação ao porto de Vigo), a variante André previa um traçado mais a Sul da
região da Galiza (ligação a Vigo), passava nas imediações de Verín, com ligação
à fronteira portuguesa, através de ligação à linha do Corgo, via Chaves. O
intento foi gorado, apesar da própria intervenção pessoal do Presidente da
Republica portuguesa da época, marechal Carmona. A decisão com prejuízo
evidente para esta região, comprometeu o progresso na parte de Verín, e mesmo
na parte do município de Chaves, consequências não totalmente contabilizadas.
A intervenção foi seguida com
atenção e faz-nos refletir que certas opções, para o bem e para o mal, podem
comprometer ou ao invés, cativar ou provocar a expansão definitiva de um povo,
de uma comunidade, daí que, como princípio, devemos contribuir para que as boas
decisões sejam tomadas.
Finalmente, o Dr. Paulo Chaves,
que teve uma excelente intervenção, no sentido de alertar para os desafios que
se colocam à imprensa local (escrita e falada – jornais, rádio).
A imprensa local percorreu um
caminho, marcou a vida quotidiana das pessoas por gerações, e agora debate-se
com uma encruzilhada, em que o caminho que se apresenta pela frente implica… um
passo em frente. E, dar esse passo em frente… para que signifique, como é
desejável, marcar as gerações que seguem, tem que ser um passo firme e seguro,
isto, numa época de incertezas. É a concorrência com os produtos digitais… as
redes sociais, os blogues, as páginas web, os jornais online, em que tudo e todos, individualmente ou em grupo, são
fontes de notícias… grátis. Como pode a imprensa local, com todos os seus
custos sobreviver com uma concorrência assim? Adaptar-se, aproveitar essas
fontes de informação… Numa época em que os órgão de comunicação social centrais
diminuem as notícias das regiões periféricas, aproveitar e colocar-se como
parceiros privilegiados de agências noticiosas, ao nível da produção de
conteúdos, inovar, produzir conteúdos noutros formatos (ex. vídeo). Entre os
desafios e oportunidades, quer na produção de conteúdos, quer na transmissão de
informação, está a divulgação das atividades levadas a efeito por associações
como o FGT, as escolas, associações ou as autarquias, criando-se como que uma
simbiose de interesses.
As intervenções, como se
depreende, tiveram o seu interesse, porém, interagir, trocar ideias, e
opiniões, contactar com todas estas personalidades foi sem dúvida o ponto alto
deste evento. Tudo é cultura, a cultura também nos realiza.