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sexta-feira, 31 de maio de 2013

III Encontro com Escritores e Jornalistas do Alto Tâmega, Barroso e Galiza

Um denominador comum, a cultura galaico - transmontana. Com este pretexto, na manhã do passado sábado, 25 de Maio, reuniram-se na Biblioteca Municipal de Chaves personalidades da cultura do Alto Tâmega, Barroso e Galiza, para o III Encontro com Escritores e Jornalistas, promovido pelo Fórum Galaico Transmontano (FGT).
O evento foi marcado por uma sessão cultural marcada pelas intervenções dos convidados Prof. Doutor Fernando Augusto Machado, professor da Universidade do Minho, Professor Albert Blanco Casal, do Instituto Ens. Sec. de Verín e Dr. Paulo Chaves, Diretor do Jornal “A Voz de Chaves”.
O Presidente da Direção do Fórum Galaico Transmontano, como anfitrião fez as honras da iniciativa, deu as boas vindas a todos quantos estiveram presentes, agradeceu a disponibilidade da autarquia representada pelo Arq. António Cabeleira, e enalteceu o papel do FGT, que paulatinamente, passo a passo, tem afirmado um percurso sólido, comprovado por um conjunto de realizações, que elevam a associação a referência cultural desta região.
O FGT marca o seu caminho, trabalha em prol da cultura, em favor da região galaico – transmontana, procura somente, despertar mentes, para uma das maiores riquezas de que dispõe – a sua beleza, a sua riqueza, está no seu ser, a sua cultura, o seu passado, o seu presente e o seu futuro.
Certamente vivemos uma época difícil da nossa história, pela grave e severa crise económico – financeira que o país atravessa, mas como referiu o Arq. António Cabeleira, não cessará de apoiar a cultura, em última instância é a nossa identidade, essa sobreviverá a todas as crises… há gentes que o asseguram… as gentes galaico – transmontanas.
Neste mar de dificuldades, com recursos limitados, o FGT, deu a conhecer, neste evento, a revista Fórum nº2. Contou com apoios diversos, fundamentalmente, as autarquias da região. Mais uma vez se destaca, os tempos são de crise, os recursos são parcos, mas associações como o FGT disponibilizam os seus saberes, conhecimentos, competências, o seu tempo, de uma forma voluntária, gratuita… e esse capital é reconhecido por várias autarquias da nossa terra, que aproveitam, como que esta dádiva, como uma mais valia, como uma forma de preservar a memória, uma herança que desta forma é legada a gerações futuras, que terá neste tipo de manifestações uma forma preservação do seu ser.
O FGT que realiza as suas atividades, quase a custo zero para os seus associados, marca que acompanha a associação desde que Fernando Castro assumiu a sua presidência, prossegue, assim, o seu caminho.
O III Encontro com Escritores e Jornalistas trouxe a debate três convidados, três temáticas distintas.
O Professor Doutor Fernando Augusto Machado reptado académico da Universidade do Minho, trouxe a discussão algumas reflexões sobre o objeto atual da sua investigação, numa intervenção intitulada “A igreja e a circunstância secular em tempos outros: o caso do bispado de Miranda e Bragança”.
Assim, e através do estudo analítico de ordens, decretos, encíclicas e outros documentos do bispado, ao longo de vários séculos, podemos entender como a realidade atual é condicionada por ordens e decretos aplicados há séculos atrás; aspetos da moral, da indumentária, da vida quotidiana resultam de determinações emanadas de uma fase de afirmação da igreja no passado. Um passado em que foi necessário formar, disciplinar, organizar e fazer obedecer as populações. Com espanto ou o resultado lógico de um processo, mais ou menos aceite, Fernando Augusto Machado, deu uma ótima lição… e ele tenta provar a sua tese: tudo o que se passa, tem implicações globais, mesmo em recantos profundos e manifestamente inacessíveis como o Trás – os – Montes profundo, o Barroso, a Galiza… foi assim no passado (como se verifica pelos documentos estudados), é assim, no presente.
Depois, o professor Albert Blanco Casal, apresentou a sua intervenção “A variante André: História dunha frustración”. Também correspondente a investigação que não está concluída e que alude ao tema das acessibilidades. Trás – os – Montes e a Galiza, partilham o mesmo desígnio, muitas vezes esquecidas, muitas vezes distantes, muitas vezes esperam e desesperam por progresso, às vezes por um pouco de atenção… muitas vezes por decisões que o vento leva, que o vento trás, por decisões que não são decisões, por decisões, más decisões, de quando em vez, boas decisões, daquelas que iluminam caminhos, corações, enchem o povo de orgulho e de esperança.
O caso da variante “André” foi um desses exemplos, trata-se do processo de expansão do transporte ferroviário no país vizinho, mais propriamente da expansão da rede para a vizinha Galiza, e das várias opções de traçados que estiveram em discussão. A variante “André”  que foi uma proposta rejeitada ao tempo (inícios do século XX), considerada por Albert Blanco Casal, sustentada nos seus conhecimentos académicos (Engenheiro de formação)e nas investigações que já realizou, provavelmente a melhor opção global para o trajeto ferroviário. Numa altura em que se discutiam as melhores opções: a  Norte (ligação ao porto da Corunha) ou Sul (ligação ao porto de Vigo), a variante André previa um traçado mais a Sul da região da Galiza (ligação a Vigo), passava nas imediações de Verín, com ligação à fronteira portuguesa, através de ligação à linha do Corgo, via Chaves. O intento foi gorado, apesar da própria intervenção pessoal do Presidente da Republica portuguesa da época, marechal Carmona. A decisão com prejuízo evidente para esta região, comprometeu o progresso na parte de Verín, e mesmo na parte do município de Chaves, consequências não totalmente contabilizadas.
A intervenção foi seguida com atenção e faz-nos refletir que certas opções, para o bem e para o mal, podem comprometer ou ao invés, cativar ou provocar a expansão definitiva de um povo, de uma comunidade, daí que, como princípio, devemos contribuir para que as boas decisões sejam tomadas.
Finalmente, o Dr. Paulo Chaves, que teve uma excelente intervenção, no sentido de alertar para os desafios que se colocam à imprensa local (escrita e falada – jornais, rádio).
A imprensa local percorreu um caminho, marcou a vida quotidiana das pessoas por gerações, e agora debate-se com uma encruzilhada, em que o caminho que se apresenta pela frente implica… um passo em frente. E, dar esse passo em frente… para que signifique, como é desejável, marcar as gerações que seguem, tem que ser um passo firme e seguro, isto, numa época de incertezas. É a concorrência com os produtos digitais… as redes sociais, os blogues, as páginas web, os jornais online, em que tudo e todos, individualmente ou em grupo, são fontes de notícias… grátis. Como pode a imprensa local, com todos os seus custos sobreviver com uma concorrência assim? Adaptar-se, aproveitar essas fontes de informação… Numa época em que os órgão de comunicação social centrais diminuem as notícias das regiões periféricas, aproveitar e colocar-se como parceiros privilegiados de agências noticiosas, ao nível da produção de conteúdos, inovar, produzir conteúdos noutros formatos (ex. vídeo). Entre os desafios e oportunidades, quer na produção de conteúdos, quer na transmissão de informação, está a divulgação das atividades levadas a efeito por associações como o FGT, as escolas, associações ou as autarquias, criando-se como que uma simbiose de interesses.
As intervenções, como se depreende, tiveram o seu interesse, porém, interagir, trocar ideias, e opiniões, contactar com todas estas personalidades foi sem dúvida o ponto alto deste evento. Tudo é cultura, a cultura também nos realiza.

Ecos do Encontro

http://diarioatual.com/?p=102571